quinta-feira, 16 de maio de 2019

Livro: “Como Ser Feliz Sem Dar Certo: E Outras Histórias de Salvação Pela Bobagem” de Carlos Moraes

Muitas histórias interessantes é o que podemos degustar ao ler o livro do ex-sacerdote católico e ex-preso político Carlos Moraes, no livro "COMO SER FELIZ SEM DAR CERTO".

Como o próprio autor a identifica, a obra, é uma tentativa de contra-ajuda, ou seja, uma crítica à febre de anos das publicações de auto-ajuda, que quase nunca ajudam ninguém. Os desavisados leitores certamente apreciarão o modo irônico como ele apresenta temas de extrema seriedade.

Provocações à parte, o texto é uma ótima coletânea de crônicas, escritas com humor, sensibilidade e conhecimento do ser humano, mostrando o cotidiano de modo divertido, pitoresco e gracioso, pinçando aqui e ali, situações e tipos bem característicos de nossa cultura.

Como ex-sacerdote, Carlos Moraes coloca no que escreve a sensibilidade da formação humanística, interpretando fatos do dia-a-dia à luz dos ensinos sagrados, sem contudo descambar para o pieguismo ou o puritanismo. Em uma dessas crônicas (em Evangelhos) fala da aventura de dois amigos, que percorriam de bicicleta uma rodovia pelos Andes Chilenos, e depois de um longo dia, exaustos, famintos, sem dinheiro, molhados pelas chuvas e pela neve, se atiram à sorte num canto de areia, entre duas pedras em uma praia deserta. Quase desfalecidos vêem passar um pescador com um salmão enorme às costas. Uma fogueira foi acesa e logo o peixe era assado nas brasas, surge um amigo do pescador com uma garrafa de vinho, as roupas secaram, o papo se alongou até a madrugada... houve ali a ressurreição do ânimo e a aplicação do Evangelho, quando o pão e peixe foram multiplicados e a água transformada em vinho.

Livro: “Como Ser Feliz Sem Dar Certo: E Outras Histórias de Salvação Pela Bobagem” de Carlos Moraes

Irreverente, mas com classe, o autor abre o livro com a insuspeita história do Monsenhor Francisco Rosalvo, Pároco em uma cidade, que teve sua vocação salva por nada menos que um "Pum inconsequente", Isso mesmo senhores: um "pum". Por ter saído em local e hora não apropriados, o reverente sacerdote, deixou sua paróquia burguesa e embrenhou-se pelas matas do Brasil Central afim de Evangelizar nossos índios. Conta-se que ali descobriu sua verdadeira vocação e viveu até o último de seus dias, com "odores de santidade".

O livro, porém, é mais que crônicas. Como Repórter, Carlos Moraes é observador, tem faro para perceber e extrair da vida comum o combustível para o seu trabalho, trabalho que transforma em puro entretenimento para os leitores. Como Jornalista, consegue ser breve e conciso. Os textos são enxutos, claros, didáticos, suaves. O livro não cansa porque fala de coisas tão distintas e ao mesmo tempo tão oportunas, como no "Adágio em Ex". Nessa crônica em particular, faz uma apologia (que empresta nome ao livro) àqueles que são "ex" muitas coisas: ex-magro, ex-marinheiro, ex-vendedor, ex-tabagista, ex-comunista, ex-atleta...ex-presidiário etc. Nem por isso, acham que não deram certo. Há pessoas, cujas paixões necessariamente não coincidem com o mercado, explica, e nem por isso deixam de ser felizes. Ponto final.

A obra não tem nada de boa se você é uma pessoa séria, tão séria que não tem tempo de observar a natureza, o cotidiano, o humor dos amigos e as incoerências da vida. Para esse não vale a penas ler. É perda de tempo.

A obra não tem nada de má, se você é daqueles que valoriza os amigos, gosta do entardecer, encanta-se com a música, e principalmente gosta de ler, ler de tudo, inclusive crônicas, crônicas digestivas, variadas e engraçadas como a de Carlos César Novaes ou Luís Fernando Veríssimo.

Não conquistar seus próprios objetivos e ainda assim encontrar a felicidade? Carlos Moraes provou que isso é possível no livro COMO SER FELIZ SEM DAR CERTO, no qual reúne pequenas histórias e muito humor para mostrar que, mesmo sem conseguir tudo o que se quer da vida, pode-se ''dar de cara'' com a felicidade e tropeçar na sabedoria, ainda que nos pequenos detalhes ou nas pitorescas esquinas da vida. Compromissos, contas a pagar sucesso a alcançar, é tanta cobrança que fica difícil fugir da seriedade e dos cartesianos programas que ensinam como ser feliz em dez lições. 

O jeito que Carlos Moraes deu para não cometer este erro foi desenvolver uma espécie de teoria da salvação pela bobagem. Carlos Morais faz questão de classificar COMO SER FELIZ SEM DAR CERTO como um livro de "contra-ajuda". Ao invés de juntar fórmulas de sucesso pessoal e equações de felicidade, ele resolveu contar histórias que fizessem com que os leitores refletissem sobre a necessidade de se levar a vida com bom humor e leveza.

Um comentário:

  1. Um livro de contra-ajuda?? Eu nunca tinha ouvido essa expressão...
    Lendo o post achei bem interessante a maneira que o autor escreve.
    Mas confesso que ainda gosto muito dos livros 'tradicionais' de auto-ajuda haha.

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

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