O atemporal conto de Arthur Miller em julgamento.
Na Salem do fim do século XVII, mulheres são acusadas de bruxaria, o que mobiliza a cidade. Em pouco tempo, os dedos estão sendo apontados para todos os lados, mesmo sem motivo aparente. Para tentar controlar esse caos, surge a figura de um inquisidor, e os casos irão a julgamento.
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Winona Ryder interpreta Abigail Williams |
O filme é baseado na consagrada peça "The Crucible'' ("O Cadinho'', em tradução literal, 1953), do dramaturgo americano Arthur Miller (1915-2005). O próprio fez a adaptação para o cinema, o que lhe valeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado. A peça é inspirada na história real de uma perseguição a bruxas e espíritos demoníacos que teriam se manifestado na puritana aldeia de Salem, no estado americano de Massachusetts.
Corria o ano de 1692 quando a semi-escrava negra Tituba foi falsamente acusada de enfeitiçar um grupo de meninas, num suposto ritual de dança e evocação de espíritos demoníacos. O ''ritual'', que não passava de uma brincadeira de moças fazendo pedidos de casamento ao fogo, foi interpretado como feitiçaria pelo reverendo da cidade, que flagrou as meninas em ação. As garotas seriam publicamente denunciadas como bruxas e condenadas à forca, especialmente porque duas delas entraram num inexplicável coma após o flagrante.
Para salvar-se da forca, a líder do grupo, Abigail Williams (interpretada por Winona Ryder), seguindo o exemplo de Tituba, confessa que todas foram possuídas pelo demônio e rogam por salvação. Estabelece-se um pacto entre elas, que se dizem perseguidas por visões em que vários habitantes da aldeia aparecem como praticantes de bruxaria.
O falso sofrimento das meninas comove os juízes religiosos e a comunidade de Salem, que passa a acatar as ``revelações'' do demônio e a prender arbitrariamente todo e qualquer cidadão denunciado pelas visões das moças. Começa uma onda de perseguição, vingança e histeria coletiva que leva ao total descontrole a aldeia mergulhada no obscurantismo religioso.
Naquela época, tanto a Inglaterra quanto suas colônias nutriam a crença na intervenção de Deus e do diabo no mundo terreno, manifestando-se este último de várias formas, inclusive por meio de feiticeiros. Sabe-se que na Escócia, entre 1560 e 1600, foram executados 800 bruxos e bruxas, numa média de quatro por semana. Mas o objetivo final da protagonista de "As Bruxas de Salem'', Abigail, é vingar-se de John Proctor (interpretado por Daniel Day-Lewis), o amante casado que a desprezava.
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Winona Ryder e Daniel Day-Lewis em cena |
Quando investigadas por seus atos de bruxaria, os acontecimentos se desdobram numa histeria coletiva com graves consequências sociais. Várias pessoas são acusadas injustamente por Abigail, entre elas, a esposa de John. A partir deste momento inicia-se um julgamento cheio de oscilações éticas, “verdades secretas”, jogos de poder e alienação típica de uma sociedade dominada por dogmas religiosos. Interessados em arrendar terras vizinhas, pais solicitavam as suas filhas que denunciassem os prováveis envolvidos, ganhando assim mais território, em suma, uma era de traições, destruição de famílias e intrigas.
Enfim, um ótimo filme. Já comentei algum outro filme aqui no blog que tem esses mesmos efeitos nefastos da ignorância, e claro, aqui ainda temos o fanatismo religioso em uma comunidade no ano de 1692. Seria cômico se não fosse trágico ver a que ponto a histeria em Salém chegou, com vizinhos acusando os outros de bruxaria a menor suspeita e pessoas sendo julgadas e executadas com base em fofocas e acusações infundadas, o que nos leva as ''fake news''. Isso parece ser tão atual, principalmente no plano político no qual estamos vivenciando. Mudam-se os tempos, muda-se o contexto, mas permanece a conjuntura. Recomendo!